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Quando Marquês do Pombal se decidiu pela criação da primeira Região Demarcada do mundo foi por Barqueiros que começou. Nesta freguesia do concelho de Mesão Frio encontram-se ainda os marcos de pedra que faziam desta aldeia a porta de entrada à vinhateira Região Demarcada do Douro, um facto que só por si torna incontornável a importância deste povoado nascido na margem direita do Rio Douro a pouco mais de 20 quilómetros a jusante da cidade da Régua. Antes de adoptar a denominação pela qual é referenciada, a aldeia de Barqueiros era conhecida como Terra dos Marinheiros do Douro. Os homens desta terra dedicavam-se quase exclusivamente à faina do transporte do vinho Douro abaixo, em direcção às caves do Porto e de Vila Nova de Gaia. O Rio Douro, antes de ser o espelho de água amainado pelas barragens que é hoje, era um curso de águas muitas vezes revoltas. Os fundões e as enormes pedras que ora se erguiam no meio do leito, ora se escondiam a poucos centímetros da superfície, eram apenas alguns dos escolhos que tornavam penosas e muitas vezes mortíferas as viagens dos barcos Rabelo rio abaixo e rio acima. Berço de destemidos marinheiros e dos melhores arrais que o Douro conheceu, Barqueiros continua, tal como fazem muitas povoações ribeirinhas e piscatórias, a venerar São Bartolomeu, a quem de resto fez seu padroeiro, e Nossa Senhora da Boa Viagem, a quem numa fraga fronteira à aldeia prostrou uma pequena e singela imagem venerada e saudada por todos quantos diante dela passam. O seu étimo medieval é mesmo São Bartolomeu de Barqueiros, remontando o foral fundador a 13 de Setembro de 1223 assinado por D. Sancho II. Mas nem só de marinheiros e arrais reza a história de Barqueiros. Até ao transporte dos vinhos nos barcos Rabelo há todo um ano agrícola de trabalhos nas escarpas que, em anfiteatro natural, escorrem em vinhedos do alto das serras até à borda da margem do Douro. Dos dias da jorna de sol a sol e das múltiplas tarefas a que a vinha obriga, igualmente se constrói a memória fundadora deste povoado. Também Barqueiros e as suas sucessivas gerações de habitantes foram hábeis artesãos dessa paisagem viva de fiadas geométricas e intermináveis de vinhedos que hoje reclama o título de paisagem protegida pela UNESCO sob título de património mundial. Nos finais do século XIX os caminhos de ferro rasgaram as inóspitas terras durienses. Os barcos Rabelo foram perdendo importância e o som do bater da espadela no rio acompanhando o grito de comando do arrais tornou-se rapidamente num doce eco do passado, obrigando os barqueirenses a virarem as costas ao rio e a concentrarem-se mais do que nunca no cultivo e tratamento das vinhas. É claro que tantos séculos de história produziram mitos e histórias dignos de serem contados e um dos seus mais fiéis depositários é sem dúvida o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Barqueiros.
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